De vez em quando fala-se muito sobre a desertificação do interior, sobre os riscos dessa desertificação e da necessidade de intervir. Mas este interesse só acontece, infelizmente, quando o tal interior desertificado, mas usado ao serviço de interesses escandalosamente protegidos, é vítima de catástrofes como todos conhecemos.

Aí, e por instantes, as consciências são abaladas, os governantes usam o palco da desgraça para se mostrarem, declararem a sua total solidariedade, fazerem promessas e declararem a sua determinação inabalável em tudo fazer para alterar este estado de coisas. Mas depois… quando as luzes do palco se apagam, o interior fica esquecido no armazém das suas memórias, como os bens que foram doados para apoiar as vítimas dos incêndios de Pedrogão.

Quando o escândalo surge já não os vemos correr para os ecrãs das televisões. Não há discurso demagógico que resista à evidência do abandono a que votaram aqueles a quem prometeram mundos e fundos. Se foi por incompetência ou por negligência, eis a questão! As promessas misturaram-se com as cinzas e por lá ficaram.

Se a solidariedade incondicional com as vidas destruídas se desvanece, imagine-se o que acontece com a determinação em dar vida ao interior!! Onde estão as medidas concretas, capazes de contrariar a desertificação, a destruição da paisagem natural e a perda de atractividade?? Onde estão as medidas de descriminação positiva que o interior necessita? São tudo miragens! Se o interior tivesse grande número de eleitores, desculpem….grande densidade populacional, aí sim, seria diferente. Os fundos comunitários destinados ao interior chegariam todos ao destino, as auto-estradas construídas para aproximar as zonas mais interiores dos grandes centros seriam gratuitas e, quem sabe, os habitantes do interior sem possibilidade de recorrer aos transportes públicos teriam subsídio não para o passe social mas para o combustível!! Descriminação positiva para o interior? Só quando se deixar de governar em função de interesses pessoais e de pequenos grupos e quando as medidas deixarem de ser tomadas com o objectivo de conquistar os votos que garantem a manutenção no poder que permite continuar a servir os tais interesses que nada têm a ver a com o interesse nacional.

Contrariando a lógica instalada, João Moura, o presidente da distrital de Santarém do PSD, e a propósito da necessidade de construção de um novo aeroporto complementar à Portela, ousou defender e tem-se batido por uma proposta “fora da caixa dos interesses obscuros” que, em nossa opinião, faz sentido e constitui uma verdadeira oportunidade para contrariar a tendência de perda da nossa região.

Apesar de o Governo já ter anunciado o Montijo como o local do novo aeroporto, mesmo antes de ter o estudo de impacto ambiental, João Moura tem procurado colocar Tancos como alternativa. Segundo ele, para além dos muitos milhões que pouparia aos cofres do Estado, teria a vantagem de atrair investimento e população para o interior, não aumentando a pressão sobre áreas de grande densidade populacional em torno de Lisboa. Ao que parece, também do ponto de vista ambiental esta solução apresenta vantagens quando comparada com a solução do Montijo. Se assim é, por que razão não foi ponderada por quem governa?

Para João Moura, o problema começa por Portugal não ter um PLANO NACIONAL ESTRATÉGICO AERONÁUTICO actualizado, dado que o último data de 1929!!

Depois, defende que a solução deve passar, obrigatoriamente, por procurar uma alternativa que rentabilize os recursos existentes, como manda o bom senso e a boa gestão dos dinheiros públicos, pelo que a reconversão de uma base militar para voos civis se afigura a solução mais razoável.

Sabendo-se que um aeroporto de raíz em Alcochete tem uma previsão de custos de 1800 milhões e que o País não tem dinheiro para o construir, analisa várias alternativas:

Beja, já com investimento feito, já provou que não funciona e não parece ser uma solução complementar a Lisboa.

Monte Real é uma base militar da NATO, onde estão os aviões caça F16, os patrulhadores dos ceús de Portugal. Os seus voos prevalecem sobre quaisquer outros em termos de prioridade. Acresce que Monte Real não tem ligação ferroviária nem Rodoviária adequada. Serve as pretensões do centro do país, inclusivé de Fátima, mas nunca será um aeroporto complementar a Lisboa. Para além disto, não tem capacidade de expansão e a placa da pista não aguenta peso de aviões comerciais acima de 120 passageiros o que implicaria que a pista tivesse de ser refeita.

Estranhamente, o Montijo, que tem múltiplas condicionantes ambientais é a solução eleita pelo Governo. Como forma de as contornar o Governo fez o que nenhum país da Europa faz quando está em causa a construção ou ampliação de um aeroporto: prescindiu de um estudo de avaliação ambiental estratégica,

limitando-se a pedir um estudo de impacto ambiental que, como a Associação Zero tem vindo a denunciar, é falacioso, pois não conta, por exemplo, com o impacto sonoro em todo o edificado da margem sul. Esta solução exigirá, no futuro, uma nova ponte sobre o Tejo a partir de Chelas, implicando mais um avultado investimento, aumenta a pressão sobre as áreas de maior densidade populacional, com as inevitáveis consequências, e, ao que parece, não tem viabilidade para ligação ferroviária. Pior que tudo, seria mais dinheiro deitado à rua, pois a solução do Montijo não tem capacidade de expansão e, com o investimento previsto, a combinação Portela+Montijo estará esgotada em 2030!! Perante isto, porquê insistir nela? Que interesses estão aqui em jogo?

Tancos, como aeroporto complementar ao Humberto Delgado, faz, na opinião de João Moura, todo o sentido:

  • a sua distância a Lisboa – em Km e tempo de viagem – é razoável e situa-se na média europeia dos aeroportos às capitais;
  • como terminal 3, complementar da Portela, bastaria um investimento máximo de 50 milhões, tendo em conta que o terminal 2 de Lisboa custou 38 milhões. Com um investimento inferior a 1 milhão, a actual pista ficaria com todas as condições para voos de longo curso;
  • parte do edificado existente podia ser requalificado e potenciado, poupando dinheiro ao Estado;
  • tem capacidade de expansão;
  • tem uma excelente ligação rodoviária, quer no eixo norte/sul (com a A1), quer no eixo este/oeste (com a A23);
  • tem proximidade à ligação ferroviária, com o Entroncamento a 8KM; – não tem condicionantes ambientais que se conheçam;
  • existe uma total compatibilidade com a actividade militar da zona;

É público que a Distrital de Santarém do PSD se tem desdobrado em iniciativas, nomeadamente, promovendo debates e sessões de esclarecimento com a participação de quem tem uma palavra a dizer nesta matéria, revelando-se Tancos como uma boa solução como aeroporto complementar de Lisboa.

Para João Moura, se pilotos, controladores aéreos, associações ambientalistas, projectistas, empresários de vários ramos e autarcas são favoráveis a esta solução, e se ela pode constituir uma medida concreta de valorização do interior,

contribuindo para reduzir as assimetrias territoriais e para contrariar a desertificação desta zona do território, por que razão não é equacionada por quem tem o poder de decisão?

Perante esta argumentação parece pertinente perguntar: o que justifica a falta de vontade política em ponderar esta solução? quais são os lobbies e os interesses que o poder político pretende salvaguardar em prejuízo do que parece ser vantajoso para o País e para esta região do Médio Tejo, em concreto? até quando os partidos estão dispostos a apoiar e suportar estes lobbies que, já se percebeu, constituem verdadeiros obstáculos ao desenvolvimento sustentável do País?

Sendo verdade que o último PLANO NACIONAL ESTRATÉGICO AERONÁUTICO é de 1929, por que razão não se elabora um novo Plano antes de tomar decisões como a que foi tomada pelo Governo? E por que razão o Governo não pediu um estudo técnico rigoroso para encontrar a melhor solução para um problema desta natureza, que, como sabemos, tem múltiplas implicações? É mesmo um País “sem rei nem roque”, onde tudo é feito ao contrário e onde a falta de visão e de planos estratégicos são estrategicamente importantes para legitimar tomadas de decisão que nada têm a ver com os verdadeiros interesses nacionais.

E já agora, se esta solução beneficiaria grandemente a nossa região, por que razão não se vê a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo a defendê-la com unhas e dentes? Passaria a ter o aeroporto mais próximo da fronteira com Espanha, reforçaria o seu papel no País, atrairia investimento, cresceria em termos populacionais e criaria condições à sua população para aqui continuar.

Enfim… há razões que a razão não entende. Quem não está atento às oportunidades ou nada faz para as agarrar não se pode queixar depois. Com treinadores de bancada e velhos do Restelo nunca chegaremos ao pódio. Continuaremos a sonhar com a qualidade de vida e as condições dos países onde se pensa a sério antes de agir e onde o interesse colectivo é o que predomina acima de qualquer outro.

Resta-me felicitar o João Moura pela coragem de navegar contra a corrente e de lutar por uma causa em que acredita e que, certamente, faria toda diferença nesta região.